quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
A Rádio Cachoeiro, identificada pelo prefixo ZYL-9, foi o palco inicial onde a estrela de Roberto Carlos Braga começou a brilhar. Situada em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, essa emissora teve um papel crucial na descoberta e projeção do talento que viria a se tornar o Rei. Foi aos domingos pela manhã, no programa infantil da rádio, que o pequeno Roberto teve a chance de soltar a voz e encantar os ouvintes.
O programa, que unia famílias ao redor dos rádios, era comandado por personalidades locais como Jair Teixeira, o professor Florísbelo Neves, José Américo Mignone e, ocasionalmente, César Missi. Roberto Carlos, com seu talento natural e carisma, logo se tornou o destaque do programa, assumindo o encerramento com suas apresentações musicais que emocionavam o público e revelavam o artista em formação.
Sua primeira apresentação no programa foi com a canção "Amor y Más Amor", um bolero do porto-riquenho Bobby Capó, sucesso da década de 1950. A escolha da música, com sua melodia envolvente e letra profundamente romântica, revelou o jovem Roberto como um intérprete sensível e cativante. Um trecho da canção já dava pistas do que estava por vir:
"Tú no sabes cuánto te quiero,
tú no sabes lo que yo tengo para ti,
tú no sabes que yo te espero para darte,
amor, amor, amor y más amor..."
Suas apresentações cativaram os ouvintes e marcaram o início de uma trajetória que logo ultrapassaria os limites de sua cidade natal. Pouco tempo depois, Roberto passou a integrar o conjunto regional da Rádio Cachoeiro, o que lhe conferiu ainda mais visibilidade, ganhando reconhecimento como um jovem promissor.
Antes de sua mudança para o Rio de Janeiro, em 1954, Roberto gravou sua primeira música, "Deusa". Essa gravação histórica foi realizada em um acetato nos estúdios improvisados da Rádio Marconi, localizados nos fundos do Hotel Toledo. A canção, composta por Joel Pinto, é um bolero cuja letra já antevia a inclinação de Roberto para o estilo romântico que marcaria sua carreira:
Terna expressão de um louco anseio,
Sonho que eu busco em devaneio,
Como quem busca uma ilusão.
Anjo do céu,
Que passa pela vida,
Pobre andorinha perdida,
Sem ninho e proteção.
Deusa da terra,
Por quem eu vivo atormentado.
Sonho de amor do passado,
Ouça os lamentos meus.
Deusa,
Que Deus me veja neste mundo,
Para que eu tenha um segundo
Da luz dos olhos teus.
A gravação foi reproduzida algumas vezes na Rádio Cachoeiro, a mesma rádio em que Roberto se apresentou pela primeira vez aos nove anos. Esta emissora, fundada nos anos 1940 por Alceu Nunes Fonseca, que construiu um importante legado na história da comunicação no Brasil, principalmente no que diz respeito às rádios e à radiodifusão, também era pai de Magda Fonseca, que mais tarde, já no Rio de Janeiro, se tornaria um grande amor na vida de Roberto Carlos.
Guida, apelido carinhoso de Magda Fonseca, representou para Roberto Carlos um relacionamento que ultrapassava os limites dos encantos juvenis e dos romances casuais da época. E se destacou, talvez, como o primeiro grande amor de sua vida.
Nos primeiros anos de sua carreira, Roberto Carlos e seus amigos enfrentavam dificuldades para se deslocar até os locais das apresentações. Inicialmente, utilizavam o carro da década de 1940 que pertencia ao pai de Dedé, um dos músicos do RC-9 e grande amigo de Roberto até hoje. Mais tarde, Guida, sempre generosa e próxima ao grupo, passou a emprestar seu Fusquinha verde, o que facilitou muito os deslocamentos de Roberto, Dedé e Bruno.
Esse apoio foi fundamental até que, em 1964, Roberto deu um importante passo em sua independência ao adquirir seu próprio veículo, um Volkswagen modelo 1960. Essa conquista marcou uma nova etapa em sua trajetória, ampliando sua autonomia.
No entanto, a relação com Guida foi interrompida quando, por orientação de seu pai, ela viajou aos Estados Unidos para estudar inglês. Apesar da promessa de retorno, Guida não voltou, o que causou uma grande saudade em Roberto. Foi nesse período de melancolia que ele compôs canções marcantes, como "Emoção", gravada pelos VIPs, além de "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno", que expressam o vazio e a dor causados pela ausência de sua primeira amada.
Enquanto lidava com a distância e a saudade da namorada, Roberto Carlos alcançou um sucesso avassalador com o movimento Jovem Guarda e foi alçado ao estrelato nacional e internacional. Nesse mesmo período, Roberto conheceu Nice, que viria a ser sua primeira esposa e mãe de três dos seus quatro filhos.
Assim, a Rádio Cachoeiro e o prefixo ZYL-9, com sua base em Cachoeiro de Itapemirim, além de marcar o início da trajetória de Roberto Carlos, também abriu caminhos para histórias de amor, música e saudade que moldaram a vida e a obra de Roberto. Foi nesse ambiente que começou a ser escrita uma história que ainda encanta gerações, cheia de emoção, talento e uma ligação profunda com o público.
Embora Roberto Carlos considere que sua carreira começou em 1959, quando gravou seu primeiro compacto simples em 78 rotações pela Polydor, contendo duas canções, e assinou contrato com a Boate Plaza, onde era crooner, muitos artistas e fãs têm uma visão diferente. Pela perspectiva comum entre artistas, o início de uma carreira é contado a partir da primeira apresentação pública. Assim, pode-se dizer que a trajetória de Roberto Carlos começou no início dos anos 50, quando cantou ao vivo na Rádio ZYL-9, em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, aos nove anos de idade. Para quem adota essa visão, Roberto já teria cerca de impressionantes 75 anos de carreira.
Texto de Leandro Coutinho
Página Roberto Carlos: Inspirações, Canções e Histórias
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